O dia 31 de outubro de 1517 ficou marcado nos anais da história como o início da reforma protestante. Nesse dia Martinho Lutero pregou na porta do Castelo de Wittenberg as 95 teses contra a venda de indulgências. Afixadas estas teses, os ensinos de Lutero ecoaram por toda a Alemanha e fizeram estremecer as bases de Roma.
Lutero nutria um profundo respeito e reverência pela Palavra de Deus. No dia 18 de outubro de 1512, o ilustre monge recebeu o título de doutor em teologia. Na ocasião prestou o seguinte juramento: “Eu juro defender a verdade com todas as minhas forças”. Com isso já demonstrava sua vocação de reformador embora naquela altura não sonhasse com isso. Lutero prometeu pregar a Bíblia durante toda a vida, e defendê-la nos debates e com seus escritos, contra os falsos doutores, enquanto Deus o ajudasse.
Em um de seus mais veementes sermões, Lutero disse: “Os cristãos não aceitam outra doutrina senão a que se funda sobre a palavra de Jesus Cristo, dos apóstolos e dos profetas. Nenhum homem, nenhuma assembleia de doutores, tem o direito de prescrever outras novas”.
Lutero foi prolífero em ensinar e escrever sobre as verdades da Bíblia. Só em 1520, publicou mais de 100 volumes sobre esse assunto. Entretanto, de todos os seus escritos, as 95 teses pregadas em Wittenberg, permanecem sem paralelo na história. O bravo guerreiro da fé não se intimidou em denunciar a falácia dos ensinos mais comuns de seus dias: a venda de indulgências, a missa, e a doutrina do purgatório, entre outras. Sua firme posição e ensino certamente o levariam a um confronto com Roma e o Papa.
Bula Papal
No dia 10 de outubro de 1520, uma bula publicada pelo papa Leão X chegou oficialmente às mãos de Lutero. Obviamente Lutero discordava do conteúdo desta bula e na manhã de 10 de dezembro daquele mesmo ano, Felipe Melancton convidou os demais professores da universidade de Wittenberg, bem como os alunos, para uma queima oficial do documento.
A Lei Canônica da Igreja Católica foi queimada, alguns livros, entre eles o de Ocken Eke, bem como o documento papal, ou seja, a bula que o próprio Lutero jogou dentro do fogo. Posteriormente, ele foi indagado se ele não fora radical demais com aquela decisão e disse: “Se o Papa teve coragem de ordenar a queima dos meus livros que expressam o verdadeiro evangelho bíblico, eu creio que não foi um exagero eu queimar também este documento que é contra o evangelho”.
Uma nova bula foi emitida contra Lutero. Ela declarava afinal a separação do monge da igreja de Roma. Declarava ser Lutero um amaldiçoado do Céu e incluía na condenação todos que aceitassem a sua doutrina. Assim, Lutero foi convocado para comparecer a Dieta de Worms para responder por seus escritos.
No dia 28 de janeiro de 1521, deu-se início a famosa dieta de Worms, presidida pelo jovem imperador Carlos V, cujo maior objetivo foi o julgamento de Lutero e seus escritos. A viagem seria perigosa, então Lutero convidou mais três amigos, além do representante imperial, para irem com ele até Worms. Lutero, expressando sua confiança na direção divina para esta viagem, chegou a afirmar: “Ainda que houvesse em Worms tantos demônios como telhas nas casas, eu lá entraria”. A maior parte dos membros da dieta não hesitaria em entregar Lutero à vingança de Roma. Deus então constrangeu um membro da dieta a dar uma descrição verdadeira dos efeitos da tirania papal. Com nobre firmeza, o duque George da Saxônia se levantou naquela assembleia e especificou com terrível precisão os enganos e as abominações do papado e seus horrendos resultados.
Pressão
O concílio pediu então o comparecimento do reformador e apesar dos rogos, protestos e ameaças, o imperador firmemente consentiu e Lutero foi intimado a comparecer perante a dieta. Chegando em Worms, uma pilha de livros lhe foi mostrada e a ele foi indagado: “Você reconhece estes livros como seus?” Ele disse: “Eu reconheço”. Foi-lhe perguntado: “Você está disposto a se retratar sobre o que você escreveu ali?” Ele disse: “Eu não posso dar uma resposta simples sobre isso, preciso de tempo”. Então ficou acertado que no dia seguinte ele daria sua resposta.
Quando ele retornou no dia seguinte, foi-lhe perguntado de novo: “Você está disposto a se retratar sobre o conteúdo destes livros que você escreveu?” Então ele respondeu que o conteúdo dos livros não era todo o mesmo, mas poderia ser classificado em três pontos básicos: Em primeiro lugar, havia muitos escritos dele que tratavam da fé cristã e se abdicasse daquele conteúdo, ele estaria negando a própria essência do cristianismo. Em segundo lugar, havia erros dos papistas e depravações de emissários papais que ele condenava. E o terceiro ponto era a acusação de problemas pessoais de indivíduos que ele também abordava.
Lutero foi interrompido e exigiram uma resposta sem rodeios. Ele então respondeu: “Minha consciência está cativa da Palavra de Deus e eu não reconheço autoridade dos Papas e concílios, porque eles têm se contradito em várias ocasiões. É muito perigoso para um cristão agir contra a sua consciência. Portanto eu não quero e não vou me retratar. Aqui eu estou, Deus me ajude e amém”.
Diante de tamanha ousadia, Lutero achava que aquilo seria o seu fim. Mas Deus tinha planos para Seu servo. Homens mascarados enviados por Frederico, o Sábio da Saxônia, sequestraram Lutero e o levaram em segurança para um castelo em Wartburg. Ali, nesse local isolado, Lutero fez a tradução no Novo Testamento para a língua alemã num curto período de 3 meses.
Pouco tempo depois, quando menos esperavam os inimigos da verdade, o trabalho de tradução de Lutero estava nas mãos dos cidadãos da Alemanha na sua própria língua materna. O conhecimento da verdade se espalhou pela Alemanha a tal ponto que não houve mais como exterminá-lo.
Preciosas são as lições da história. Quando Deus vai agir, Ele normalmente o faz de duas maneiras. Em primeiro lugar, Ele prepara o cenário para que isso ocorra. Em segundo lugar, Ele prepara instrumentalidades, as mais humildes para realizar grandes obras. Lutero não passava de um filho de um mineiro, uma pessoa simples, a quem Deus deu sabedoria e usou de forma extraordinária.
Nosso Senhor Jesus Cristo, falando sobre a perseguição que se abateria sobre Seus discípulos, predisse: “Não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém seria salvo; mas, por causa dos escolhidos, tais dias serão abreviados” (Mateus 24:22). De fato, o grande movimento de reforma do século XVI antecipou o fim das grandes perseguições.
Isto graças a determinação e coragem de homens como Martinho Lutero, Felipe Melâncton, Frederico da Saxônia entre outros. Que o exemplo de Lutero nos motive a ter a mesma fidelidade e amor à Palavra de Deus.
Por Pastor Arilton
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