Os índios habitam o Mato Grosso do Sul desde as primeiras décadas do século XX e são predominantes no interior desse sertão. Mas, alguns anos depois, perderam espaço de terra por conta das novas colonizações. Na década de 40, restaram a eles apenas pequenas porções de terra, cercadas por propriedades rurais ao Sul do estado. Mais de 70 anos depois, esse pedaço de chão indígena, a 200 quilômetros da capital, Campo Grande, receberia uma mensagem que mudaria para sempre a história do povo Kaiwá. Alguns deles resolveram construir uma congregação adventista inteiramente de Bambu na cidade de Douradina.
A Lagoa Rica tem quase mil índios da etnia Kaiwá e está dividida entre dois assentamentos. Ali, em março desse ano um trabalho evangelístico adventista começou a ser realizado. “Eu cheguei ao Mato Grosso do Sul no início do ano e me falaram sobre um trabalho que havia começado na aldeia, decidi, então, seguir adiante com a missão”, relata a evangelista Solange de Araújo, natural do Pernambuco.
No começo, no entanto, o trabalho não foi fácil. “Grande parte dos indígenas ali não aceitavam nenhum tipo de religião ‘de branco’, mas, por meio de uma família que se interessou, começamos então a receber semanalmente um número cada vez maior de índios interessados no estudo da Bíblia”, diz.
Igreja de bambu e lona
A primeira cerimônia adventista na aldeia aconteceu no mês de julho, com 11 batismos. Já o segundo batismo aconteceu no final do mês de novembro, quando outros 13 indígenas foram batizados.
“O sentimento é inexplicável, porque em meu coração foi a confirmação de que existe a influência de uma pessoa para outra e quando o assunto é o evangelho não existem barreiras”, emociona-se Ariel Tenório, pastor responsável pelo batismo dos indígenas.
Em oito meses de trabalho missionário, 24 índios foram batizados e passaram a frequentar a igreja assiduamente. “Depois dos batismos, faltava um lugar para realizar os cultos e dar continuidade ao trabalho. Então, os índios levantaram uma igreja adventista na aldeia, construída de bambu e lona. Atualmente 30 membros frequentam o local, 24 deles já batizados”, comenta Solange entusiasmada.
Os cultos acontecem semanalmente na pequena igreja na aldeia. E, a cada sábado, os membros da igreja de Douradina se revezam para realizar o sermão e dar a assistência necessária aos novos membros. “Eles têm uma sede muito grande em aprender mais sobre a Bíblia. Para nós, foi uma surpresa muito boa, porque é diferente de tudo o que já fizemos”, lembra o pastor da igreja em Douradina, João Primo.
O trabalho realizado exigiu comprometimento do grupo. “Visitei a aldeia e assentamento e conheci a família do índio Elizeu de Assis. Por meio dessa família, outros índios se interessaram e, assim, tudo foi acontecendo. Ou seja, os batismos e a igreja. Agora, com todos os estudos bíblicos concluídos, nossa meta é capacitá-los para que liderem a igreja e deem continuidade ao trabalho missionário em sua própria língua”, celebra Solange.
Culto no idioma Kaiwá
Os indígenas falam português, mas entre eles há o hábito de conversar no idioma Kaiwá, próprio da etnia. Na última semana, por exemplo, até o culto na aldeia foi dirigido nesse idioma. E para eles o sentimento não é diferente. “Eu acho que a volta de Jesus é uma luz para o mundo e hoje que vivo nesse caminho, tenho paz, harmonia e felicidade”, conta Aldo Garcia, indígena Kaiwá, batizado em Julho de 2015.
Aldo é genro de Elizeu de Assis, patriarca da primeira família indígena a aceitar o estudo bíblico na aldeia Lagoa Rica. A esposa, Stefany de Assis, endossa a felicidade do novo estilo de vida da família. “A minha vida ficou muito mais tranquila com Jesus. Antes eu ficava doente muitas vezes e sentia dor de cabeça o tempo todo. Depois que estudamos a Bíblia tudo mudou pra mim e pra minha família, cuidamos melhor da nossa saúde e hoje temos paz”, resume.
Equipe ASN, Rebeca Silvestrin