Último sermão pregado pelo
Pastor Enoch de Oliveira, Ex-vice-presidente da Associação Geral, na Igreja
Central de Curitiba, PR, no dia 22 de fevereiro de 1992. Sua morte ocorreu no
dia 10 de abril.
Nesta manhã, gostaria, de apresentar um sermão
diferente. Talvez, à saída, eu precise de uns dois guarda-costas para me
proteger...
Foi João Calvino, o grande reformador que, no momento de crise para a igreja da Reforma, enviou uma carta a Margarida de Navarro, que dizia: "Um cachorro ladra quando o seu dono é atacado." E eu seria um covarde se visse a Igreja de Deus ameaçada e guardasse silêncio, sem dar sinal de alarme.
Durante 46 anos tenho pregado a Cristo e o poder redentor do Evangelho. Durante 46 anos tenho pregado a Palavra de Deus, e diante dos perigos que hoje confrontam a Igreja, eu seria um covarde se, nesta manhã, guardasse silêncio sem denunciar as forças que hoje ameaçam este último movimento profético da Igreja de Deus.
Sim, quero nesta manhã denunciar, sem reservas, sem eufemismos, sem circunlóquios, os perigos que ameaçam, perigos que militam contra a Igreja de Deus, o corpo místico de Cristo. Mas antes gostaria de fazer duas observações, à maneira de introdução:
1ª observação: O tema de hoje não tem como endereço pessoas específicas. Não trago carapuças para pôr na cabeça de ninguém. E tarefa do pastor também instruir, repreender, guiar e orientar a Igreja, mas deve fazê-Io com amor e ternura. Eu amo a todos os membros desta igreja, e peço a Deus que me dê palavras suaves para que, denunciando pecados, não denuncie pessoas.
2ª observação: Temos muitas visitas nesta manhã, e elas são bem-vindas a esta igreja. A igreja e o pregador se alegram com as visitas que aquitemos. Mas uma família muitas vezes se reúne para discutir seus problemas internos, e hoje a família de Deus, a comunidade adventista da Igreja Central de Curitiba, aqui está reunida para ouvir a exposição de alguns de seus problemas internos.
O tema do meu sermão desta manhã tem como título "Cavalo de Tróia Dentro da Igreja". Num de seus poemas épicos, Homero, o grande poeta helênico, nos conta que as tropas gregas cercaram a cidade de Tróia durante dez anos. Foi um "sítio duro e r severo; cem mil soldados cercaram a cidade de Tróia, que resistiu com bravura, com heroísmo, com impressionante deteminação. Quando os gregos perceberam que os muros da cidade de Tróia eram inexpugnáveis, que eles jamais poderiam transpor as muralhas da cidade, imaginaram uma estratégia astuciosa. Convocaram um carpinteiro um mestre, um notável marceneiro e pediram que construísse um imenso cavalo de madeira. Esse cavalo de madeira, eu diria, estava sobre rodas, de maneira que podia ser movido sobre suas rodas. E, quando o cavalo estava pronto (uma obra de arte perfeita!), os soldados gregos simularam a retirada. Os cem mil soldados se retiraram e os habitantes de Tróia celebraram a grande vitória. Afinal, o cerco foi suspenso.
"Nós triunfamos sobre os gregos", pensaram. Mas os gregos foram além em sua estratégia. Pagaram a um traidor dentro da cidade de Tróia para convencer os dirigentes, as autoridades de Tróia; para trazerem o cavalo de madeira para dentro da cidade como um troféu, um troféu memorável da vitória alcançada.
E, no dia seguinte, entre aclamações, a população levou o cavalo para dentro da cidade de Tróia. Foi um dia de celebrações triunfais. A noite, quando a população dormia, soldados gregos que se esconderam no ventre daquele cavalo de madeira, saíram sub-repticiamente do interior do cavalo, desceram e cuidadosamente abriram os portais de ferro, as grandes portas da cidade ld Tróia. E os soldados gregos, que haviam simulado uma retirada, voltaram precipitadamente, e naquela madrugada invadiram a cidade e passaram os habitantes de Tróia à espada. Era o grande triunfo dos gregos, conquistado com astúcia e habilidade.
Nós podemos derivar desse poema épico algumas lições preciosas aplicáveis à realidade que a igreja vive hoje. Por muitos anos, durante décadas, a Igreja Adventista permaneceu inexpugnável, imbatível, invencível diante do assédio do inimigo.
Fomos atacados com violência, mas a igreja permaneceu invencível. Mas, em sua determinação para conquistar a cidade de Deus, o príncipe deste mundo se vale de especial astúcia, empregando armas de terrível poder destruidor, depois de muitos esforços por vencer esta cidade. Empregando o mesmo ardil dos gregos no passado, Satanás conseguiu introduzir um cavalo de Tróia dentro dos muros de Sião, a cidade de Deus. Este cavalo de Tróia se chama liberalismo.
E agora, sentindo a obra nefasta e ruinosa do liberalismo no seio da Igreja, percebemos quão vulneráveis somos aos ataques de Satanás. Durante muito tempo pensávamos que os nossos maiores inimigos estavam lá fora, e agora percebemos o significado de uma declaração do Espírito de Profecia. Atentem para esta declaração:
"Temos muito mais a temer pelo que vem de dentro do que pelo que vem de fora." – Mensagens Escolhidas, vol 1, pág. 122.
Faço-lhes, agora, uma pergunta: Quem são os que promovem o liberalismo dentro da Igreja? Não são pessoas más: eles são cristãos que amam a Igreja como você e eu; eles gostariam de ter a fé, o zelo e o fervor que marcaram a vida de nossos maiores. Mas com toda a sinceridade do coração, confessam não possuir estas virtudes. Eles desejam uma igreja diferente, eles querem uma igreja mais descontraída, mais moderna, mais aberta mais tolerante, uma igreja mais condescendente com o mundo. Não percebem eles, o compromisso que temos com Deus, como um povo peculiar que somos, de sermos diferentes. Não veem que o movimento adventista constitui um movimento profético. Perderam de vista a dimensão escatológica de nossa esperança e não sentem a urgência de nossa mis- são. Representando um amplo expectro do pensamento religioso, eles se esforçam por introduzir inovações na Igreja, tendo em vista torná-la mais popular, mais aceitável, mais tolerante, com uma roupa mais moderna. Há os que desejam uma igreja menos rígida com relação às bebidas alcoólicas: Por que não permitimos, não aceitamos o “inocente” vinho a "inocente" cerveja, e até mesmo o licor, em nossas festas sociais? Porque tanta intransigência? - dizem eles.
A Bíblia é clara quando nos diz: "Não olhes para o vinho, quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo, e se escoa suavemente." A Bíblia diz: "Para quem são os ais, para quem os pesares? Para quem as feridas sem causa? E para quem os olhos vermelhos? Para aqueles que se demoram em beber vinho."
A Bíblia não faz concessões, e como Igreja nós não podemos fazer concessão de forma alguma. Edgard AIlan Poe foi um dos gênios da literatura internacional, um dos maiores escritores da língua inglesa. Morreu prematuramente, vítima de cirrose hepática e delirium tremens. Escreveu, em sua curta existência, livros que traduzem mais talento e capacidade literária do que qualquer outro escritor da língua inglesa. E enquanto nos estertores da morte, em seu delírio ele balbuciava: "Minha mãe, minha mãe! Minha mãe me deu o primeiro copo!"
Foi a mãe de Edgard Allan Poe que lhe deu o primeiro copo e fez dele um ébrio. Como Igreja jamais queremos que os pais aqui presentes, que as mães aqui presentes, deem o primeiro copo, iniciando seus filhos na trilha do vício, tornando-se eles, amanhã, bêbados contumazes.
Há os que defendem o uso das correntinhas, dos anéis e das e das joias. Por que a Igreja é tão intransigente? Leio as palavras do Apóstolo São Pedro em uma tradução moderna: "Não se preocupem com a beleza exterior que depende de joias, ou de roupas bonitas, ou de penteados extravagantes. Sejam belas interiormente, em seus corações, com o encanto duradouro do espírito amável e manso, que é tão precioso para Deus." I Pedro 3:3 e 4.
A Igreja, com a Palavra de Deus nas mãos, exalta os encantos da modéstia cristã, o princípio da simplicidade em todas as coisas.
Há, em nosso meio, os que não hesitam em advogar a atividade sexual pré-marital (fornicação, na expressão bíblica) - Cavalo de Tróia dentro da Igreja! E a Palavra de Deus diz que os fornicários não terão parte no reino de Deus. Aos que não vacilam em defender a experiência sexual extra-marital (adultério), a Bíblia diz: os adúlteros não terão parte no reino de Deus.
Em uma sociedade permissiva, saturada de sexo, uma sociedade imunda, uma sociedade cheia de vícios, degradada pelas mais vis concupiscências, os adventistas são instados a ser o sal da terra e a luz do mundo. Em uma sociedade que glorifica o homossexualismo, em uma sociedade de que exalta a infidelidade conjugal, os adventistas não podem fazer concessão de espécie alguma. Mas, dizem os liberais: “A Igreja precisa se modernizar, a Igreja precisa ser mais aberta, ser menos medieval, menos obscurantista."
Devo dizer-Ihes uma coisa: Quem é responsável por essas normas, por esses princípios que caracterizam a Igreja? Quem é responsável pelos princípios de fé que formam o adventismo? Não é o Pastor Wolff, presidente da Divisão Sul-Americana; tampouco o Pastor Gorski, presidente da União Sul-Brasileira, e muito menos o Pastor Fuckner, presidente da Associação Sul-Paranaense. O Pastor Otávio, pastor desta igreja, também não é o responsável.
Alguns dizem que essas normas obsoletas e absurdas são estruturadas, são criadas por um corpo de pastores intransigentes, confinados numa torre de marfim, incapazes de entender os tempos e as estações.
Quem é responsável por essas normas ? Todas as declarações de fé do adventismo, todo o corpo de normas e princípios defendidos pela Igreja são decisões consensuais tomadas pela Igreja como um todo, e não por um grupo de indivíduos. Cada cinco anos - os adventistas devem saber disto - a Igreja mundial se reúne com delegação representando todas as nações da Terra, onde o adventismo está presente. E, com oração, discutem, entre outras coisas, o programa da Igreja, as finanças da Igreja, os planos de ação da Igreja e o Manual da Igreja. Há dois anos passados, a Igreja se reuniu em Indianápolis e havia os liberais presentes, que queriam fazer reformas substanciais numa nova Igreja. Lembro-me de que conversei com um que havia sido meu colega de estudos e hoje é professor universitário em Universidade dos Estados Unidos. Ele promovia mudanças radicais no Manual da Igreja. Orquestrou um movimento, mas os delegados da África, delegados da Ásia, os delegados das ilhas Pacífico, os delegados da Europa, os delegados das Américas, reunidos decidiram: o Manual da Igreja permanecerá intocado. Oraram e o Espírito Santo os guiou. Não podemos nos rebelar contra os manifestos de fé, não podemos nos rebelar contra os princípios da Igreja, pois estes princípios são enviados e dirigidos pelo Espírito Santo através da sua Igreja.
Em 1956 a Igreja patrocinou um acampamento nas montanhas do norte da Itália (um acampamento de jovens) Era noite, e junto a uma fogueira os Jovens cantavam, expressando através do cântico a sua esperança. Aproximou-se daquele grupo um homem já encanecido, grisalho, que se assentou e acompanhou todo o entusiasmo daquele grupo de jovens e, finalmente, aproximando- se do dirigente (um pastor americano), disse: "Pastor, vocês, os adventistas, devem continuar a obra que nós deixamos de realizar. Nós, os valdenses, para salvar a juventude nossa, autorizamos as bebidas alcoólicas entre eles. Depois construímos salões de bailes junto às nossas igrejas só para manter os nossos jovens na igreja. E foi de concessão em concessão que perdemos nossos jovens, perdemos a nossa igreja, e hoje somos sem futuro; temos apenas um passado." E ele terminou dizendo: "Vocês, os adventistas, devem continuar. Vocês devem realizar a obra que nós deixamos de cumprir."
Tenho aqui um livro escrito em inglês: "Por que Avançam as Igrejas Conservadoras". O autor descreve o fracasso de todas as igrejas liberais, igrejas que outrora foram conservadoras, e todas elas hoje sofrem um terrível fracasso. Com efeito, trago aqui algumas estatísticas extraídas de um outro livro: "Mantenhamos a Chama Acesa”, que diz: : " A Igreja Unida Presbiteriana nos Estados Unidos perdeu, num curto período de dois anos, mais de 400 mil membros. A Igreja Episcopal perdeu mais ou menos o mesmo número de membros. A Igreja dos Discípulos de Cristo, 450 mil membros. A Igreja Metodista, um milhão de membros. E a Igreja Católica no Brasil, perde mil membros cada dia, de acordo com a estatística apresentada pela própria Igreja Católica."
E um teólogo metodista, descrevendo o problema da Igreja Metodista, diz o seguinte: "Quem é responsável pelo fracasso da Igreja? O êxodo que os metodistas enfrentam não deve ser atribuído às forças externas. A culpa cabe à própria Igreja." E ele acrescenta: "Se a Igreja Metodista estivesse sendo atacada por inimigos externos, se estivesse sofrendo perseguição como consequência de seu esforço por evangelizar o mundo, haveria esperança. Mas o mundo não persegue uma igreja que não parece defender mais coisa alguma. A Igreja Metodista está em declínio como resultado de seu próprio fracasso em preservar sua herança religiosa."
Eu gostaria de falar dos seminários que estão
sendo vendidos, por falta de vocações ministeriais. Os templos que estão vazios
(85% da população brasileira se confessa católica, mas apenas 8% vão à missa).
Por que crescem as igrejas ortodoxas? Porque defendem princípios, eIas defendem normas, eIas defendem alguma coisa. O liberalismo entrou na Igreja, e escancarou as portas da Igreja de Deus a outros inimigos: o secularismo, o mundanismo, o conformismo, o nominalismo, o imobilismo, e uma série de outros "ismos". Vou mencionar rapidamente alguns desses "ismos" - um terrível intruso que levanta a sua arrogante cabeça dentro da Igreja, hoje: o secularismo.
O secularismo é um esforço por organizar a vida como se Deus não existisse. A Igreja se divide hoje em dois grupos: os supernaturalistas e os secularistas. Os supernaturalistas possuem uma religião vertical; os secularistas, uma religião horizontal. Os secularistas se ocupam com as coisas deste mundo; os supernaturalistas com as coisas de Deus. A Trindade dos supematuralistas é: Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo. A trindade do secularista é: móveis, imóveis e automóveis. O supernaturalista vê na Igreja o centro onde Deus concentra todo o Seu amor, toda a Sua suprema atenção; o secularista vê na Igreja uma instituição obsoleta, antiquada e irrelevante. Para o secularista há sempre um espaço crescente para o mundo e um espaço menor para Deus (há mais tempo para a televisões e menos tempo para a devoção, há mais tempo para a recreação e menos tempo para a oração).
E quais as conseqüências do secularismo? Paulo estava em uma prisão (a última prisão) em Roma, e um amigo, Demas, o abandonou. E Paulo disse: " Até Demas me abandonou, amando o presente século."
O fim inevitável dos que se deixam arrastar por essa onda ameaçadora, o secularismo, é sombrio e terrível.
Outro intruso que penetrou nos muros de Sião é o mundanismo. A Palavra diz: "Não ameis o mundo nem o que no mundo há." Eu reconheço a existência de um paradoxo na Bíblia, uma tensão – a Bíblia diz: “Não ameis o mundo”, mas ao mesmo tempo diz que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu Seu Filho” (um paradoxo). Nós não somos do mundo, diz a Bíblia, mas também diz: "Ide a todo o mundo". Esta tensão, este paradoxo, está presente nas páginas da Bíblia.
Mas, o que é o mundanismo? O dicionário define o mundanismo como o gosto pelas coisas do mundo, o gosto pelos prazeres do mundo. Muitas vezes viajei de avião para Manaus, e há um espetáculo maravilhoso que chama a atenção de todo visitante que chega a Manaus, durante o dia, que é contemplar o encontro das águas, as águas do Rio Negro que se encontram com o caudaloso Amazonas. O Amazonas com suas águas barrentas, o Rio Negro com as suas águas escuras; as águas se encontram, mas se percebe que, através de quilômetros, elas não se misturam. Elas fluem para a direção leste, sem se misturarem. O encontro das águas!
Nós nos encontramos com o mundo cada dia: com os nossos fornecedores, com os nossos vizinhos, com os nossos colegas de trabalho, com os nossos colegas de estudo. Devemos amá-los porque Cristo morreu por eles também; devemos servi-los, devemos ajuda-los, mas não devemos misturar-nos com os seus programas que ofendem a Deus.
Israel um dia pediu um rei. Não era plano de Deus que Israel tivesse um rei, mas Israel queria ser como o mundo, queria imitar o mundo e pediu um rei, e teve o seu rei. E, em pouco tempo os reis começaram a se casar comas filhas de outras casas reais, que trouxeram para Israel o mais crasso paganismo, as formas mais corruptas de idolatria, e não tardou que o rei de Israel sacrificasse seus próprios filhos, imolando-os em cultos vis aos deuses pagãos. O mundanismo leva a alma crente aos mais escuros abismos da rebelião.
Outro intruso que penetrou na Igreja: o espírito conformista – o conformismo. Em Romanos 12:2 e, o apóstolo Paulo, com linguagem veemente, diz: “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação de vosso entendimento." Há, da parte de muitos entre nós, um gradual conformismo com o mundo, com a conversação do mundo, com a música do mundo, com o estilo de vida do mundo. E eu às vezes penso na mulher de Ló, que vivia em um nauseabundo ambiente, onde se cometiam os mais torpes vícios, os mais degradantes pecados do sexo. Daí surgiu a palavra sodomismo.
Penso que a mulher de Ló era uma mulher virtuosa, que nunca se submeteu aos vícios de Sodoma, mas ela se conformou com as misérias morais que se perpetravam em Sodoma. Ela perdeu a capacidade de revelar justa indignação, de se rebelar contra toda a miséria moral de Sodoma, e quando foi levada pelo anjo para fora da cidade, o anjo pediu: "Não olhes para trás!" Mas o coração daquela mulher estava tão preso a Sodoma (uma encantadora cidade, atrativa, bela, fascinante), e ela olhou para trás. E a justiça divina desceu implacável sobre ela.
Somos concitados a não nos conformar com este mundo, mas experimentar uma transformação. A expressão grega fala dessa metamorfose - somos instados a nos metamorfosearmos no coração, uma transformação interior.
Outro intruso que levanta a sua, cabeça arrogante dentro da Igreja: o nominalismo. Crentes nominais, que têm o nome de adventistas, que se identificam como adventistas mas não vivem as virtudes do adventismo.
A igreja primitiva, a igreja apostólica, era conhecida pelo fervor, pela dedicação, pelo entusiasmo de seus membros. Nem a perseguição, nem a tortura, nem a prisão, nem o martírio foram suficientes para esmagar o ânimo daquela igreja. Mas, no IV século, Constantino, o Imperador, abraçou ao cristianismo sem experimentar os encantos, o gozo da conversão. E a Igreja saiu do escuro recesso das catacumbas para gozar o favor do palácio, para receber as benesses, os favores da corte imperial. E a Igreja se encheu de crentes nominais e se corrompeu, e pavimentou o caminho para a mais escura apostasia; Um espírito de intransigência tomou conta da Igreja.
Há alguns anos, fui convidado a apresentar uma palestra a um grupo de pastores em Montevidéu, Uruguai (pastores não-adventistas), sobre "o que creem e o que professam os adventistas". Levaram-me a um lugar muito aprazível, situado a 30 quilômetros de Montevidéu. Tivemos uma reunião extraordinária, com um grupo de 40 pastores reunidos. Era um lugar de retiro de pastores, havia uma linda biblioteca, fórum, regato, árvores frutíferas, árvores ornamentais, uma relva muito bem cuidada (era um centro valdense). Quando terminei a palestra, um pastor me convidou para conhecer a Catedral Valdense. Era uma linda catedral, com uma nave bonita, o melhor e maior órgão do país. Ele mostrou-me o museu valdense, onde estão os documentos do período de perseguição da Igreja. E, ao ver aquela magnífica igreja, lindamente acarpetada, perguntei: "Pastor, quantos são os valdenses no Uruguai?" Ele baixou a cabeça e disse: "Somos 35 mil, mas a maioria é crente dos “Três Sinais, eu nunca havia ouvido esta expressão antes. Então o Pastor me explicou que são os crentes que recebem a bênção apenas no nascimento, casamento e morte. Crasso nominalismo!
Reconheço ter apresentado um quadro muito sombrio da Igreja. Mas, em minhas reflexões finais, quero apresentar uma perspectiva mais luminosa, mais brilhante. Há uma citação, no Espírito de Profecia; que me traz muito conforto (Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 380):
"A igreja talvez pareça como prestes a cair, mas não cairá. Ela permanece, ao passo que os pecadores de Sião serão lançados no joeiramento - a palha separada do trigo precioso."
Este movimento triunfará. O fogo jamais morrerá nos altares adventista. Mesmo que todos nós (inclusive o pregador), levados pelo secularismo (como Demas), ou levados pelo conformismo (como a mulher de Ló) abandonemos a Igreja de Deus, Ele há de suscitar um remanescente que iluminará a Terra com os fulgores da glória divina. E este movimento triunfará.
Minha pergunta agora é esta: Triunfarei também com este movimento? Triunfará você também com este movimento? Experimentando as bênçãos de um reavivamento, nós haveremos de triunfar. E esta é a mais sentida necessidade da Igreja hoje, é a minha maior necessidade agora: um reavivamento em minha vida espiritual, em minha relação com Deus, em minha relação com o Senhor Jesus.
Em 1902, houve na Escócia um grande reavivamento. Milhares e milhares, dezenas de milhares foram sacudidos por um reavivamento que marcou a história da pregação no mundo. Certo dia, um turista norte-americano embarcou para conhecer cidade em que ocorrera o grande reavivamento. Desceu no aeroporto, foi ao hotel, e saiu para saber onde começou o reavivamento. Então perguntou a um policial de rua: "Eu soube que aqui, em 1902, ocorreu um grande reavivamento; e em 1952 ocorreu outro grande reavivamento, no mesmo lugar. Onde começou esse reavivamento, senhor policial?" E o guarda estufou o peito e disse: "Este reavivamento começou debaixo destes botões dourados, dentro deste peito; aqui neste coração começou este reavivamento!
Necessitamos de um reavivamento, mas ele deve começar dentro deste coração, já um pouco cansado. Este reavivamento deve começar em teu coração. Então, nos prepararemos para o grande triunfo final.
"Graças Te damos, ó Deus, por Tua presença neste culto. Ao sairmos agora deste recinto, pedimos-Te que nos acompanhes com o Teu poder. Dá-nos a presença de Teus anjos e a companhia do Teu Santo Espírito, hoje e sempre, por Jesus Te pedimos. Amém!".
Oliveira,
Enoch. Cavalo de Tróia dentro da igreja. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira.
Revista Adventista, Julho de 1992, pp. 5-9
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