Diante de situações que provocam decepções, tristezas e frustrações, a oração se mostra muito mais importante do que se imagina. Nas relações pessoais e com Deus, o hábito da oração se mostra de grande valor. Por isso, a Agência Adventista Sul-Americana de Notícias (ASN) conversou sobre a importância da oração em momentos de crise com o pastor Marcos Bomfim, diretor da área de Mordomia Cristã da sede mundial adventista.
Qual é a importância da oração em momentos de crise pessoal ou quando há decepções grandes?
É a oração que pode devolver a calma que se afundou no caos, prover direção em meio à confusão, trazer de volta o equilíbrio perdido nas quedas, restaurar a esperança que se foi ou a cura em meio à dor. É, também, a oração um dos elementos que afina as percepções espirituais (outros são o estudo da Palavra de Deus e o serviço ao semelhante) e que ajudam a identificar saídas onde antes só haviam portas fechadas.
Mas a oração, em lugar de ser um evento, precisa ser um hábito de vida. Não que Deus não possa ouvir orações eventuais (há vários exemplos deste tipo de oração na Bíblia). É que essas orações podem até mudar as circunstâncias, mas, geralmente, não mudam a vida, não produzem salvação, vida eterna. A exceção fica para o ladrão na cruz, que resolveu a vida com uma só oração, mas que também foi a última. É que ele não estava mais orando para resolver as encrencas aqui de baixo. Ele agora queria salvação eterna, e isso ele ganhou.
Mas a oração não é uma ajuda?
Por outro lado, tem gente que está atrás apenas de uma ajudinha para sua vida, e do seu jeito, mas não de uma transformação de vida. Não é uma busca por vida eterna. Nesse caso, eu procuro a Deus quando preciso, e se acho que não necessito, Ele fica lá, à disposição. Isso parece muito conveniente. Um Deus apenas servo da minha necessidade é um deus da minha criação, que não corresponde em nada ao Deus da Bíblia, Criador e Mantenedor do universo, o Juiz de toda a terra.
Para mim, o grande desafio, a parte mais difícil da religião, não é orar em tempos de crise, mas é continuar orando, dia após dia, quando tudo vai bem. Isso significa que eu preciso ter horários estabelecidos para orar, como Daniel (Daniel 6:10, 13) e Davi (Salmos 55:17), formar rotinas. Claro que para desenvolver hábitos, preciso repetir ações, sempre da mesma maneira, no mesmo horário, no mesmo lugar, sem exceções, porque as exceções são destruidoras dos hábitos. É essa busca formal, regular, constante, por Deus, em tempos de paz, que nos dá energia espiritual para encontra-Lo mais facilmente, seja na informalidade ou em momentos difíceis.
E para a espiritualidade das famílias, de que forma prática a oração funciona?
Eu me lembro de entrar no quarto dos meus pais, e ver o meu pai de joelhos, com a Bíblia aberta em cima do sofá, orando. Eu me lembro da minha mãe reunindo os hinários e os livros de estudo enquanto meu pai chamava para o culto familiar. Eu sei que essa visão pode mudar a vida dos filhos, porque quando os pais têm esse tipo de vida de oração, conectada com a Palavra, por mais defeituosos que sejam, vão ser uma influencia tremenda dentro de casa. Claro que meus pais tinham defeitos, mas de algumas coisas eu não tinha dúvidas: eles queriam a Deus, queriam o Céu, e queriam fazer tudo que fosse preciso para que nós, os filhos, também estivéssemos lá, mesmo que estas coisas temporariamente nos desagradassem ou até circunstancialmente trouxessem um mau ambiente para eles. Estava muito claro para nós os filhos que eles não estavam ali para nos agradar, mas para agradar a Deus.
Acho que um grande desafio em família é fazer da oração um hábito. Como pai ou mãe, preciso lutar com todas as forças para estabelecer este hábito na vida dos filhos antes que eles saiam de casa. Para isso, preciso eu mesmo adotar o principio de Primeiro Deus (Mateus 6:33), que se aplica a tudo na vida espiritual – da devoção pessoal e familiar, à vida financeira (dízimo e pacto) ou a frequência à igreja. Isso quer dizer que Deus precisa ser buscado primeiro, antes de absolutamente tudo mesmo – incluindo redes sociais, noticiário, desjejum, exercício físico, ou outra coisa qualquer. Na verdade, a família toda deve acordar para orar e estudar a Bíblia (e a Lição da Escola Sabatina), primeiro individualmente, depois em grupo (culto familiar) – conexão com Deus antes de qualquer conexão com o mundo. Esta precisa ser a motivação diária para sair da cama, seja o dia um feriado, férias, sábado, domingo ou um dia de trabalho ou estudos.
A frequência à igreja, ou mesmo o trabalho formal ou informal na igreja, não terão poder para afetar a espiritualidade pessoal ou familiar se Deus não estiver sendo buscado, e em primeiro lugar, dentro de casa, por meio da [1] comunhão particular de cada membro da família e do [2] Culto Familiar – um momento bem curto, todos juntos (nenhum membro da família com permissão especial para ficar na cama ou faltar), duas vezes por dia (manhã e à tardinha), orando, cantando, e estudando algo relacionado à Palavra de Deus. Na casa dos meus pais, isso era mais importante que a comida, estudo ou brincadeiras, e mesmo as visitas logo entendiam que também estavam incluídas. Mesmo em viagem, o carro parava no horário do culto, porque se Deus não for o primeiro e o último, não vai ocupar lugar algum.
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