Texto
Bíblico:
“Desde os dias de João
Batista até agora, o reino dos céus é tomado por esforço, e os que se esforçam
se apoderam dele.” Mateus 11:12
1
INTRODUÇÃO
Definição
Do Problema
O texto de Mateus 11:12,
quando tirado de seu contexto, pode ser mal interpretado. No texto há
expressões como “tomado por esforço” e “esforçam” que podem levar o leitor a
interpreta-lo como sendo apoio a crença da salvação pelas obras, ou, até mesmo,
que as obras são levadas em conta no processo de salvação. Especialmente porque
essas palavras foram ditas pelo próprio Cristo.
Proposito
O presente trabalho tem
como objetivo buscar, por meio da hermenêutica bíblica, a melhor compreensão
para o texto de Mateus 11:12. O texto será estudado exegeticamente dentro do
seu contexto e língua original, para que se possa conhecer qual o verdadeiro
sentido o autor desejava transmitir aos seus leitores.
Relevância
Do Trabalho
A crença na salvação
unicamente pela graça é defendida pela maioria dos cristãos e apresentada nos
escritos do apóstolo Paulo por varia vezes, sendo a mais destacada Efésios
2:8-10 onde o autor desqualifica qualquer possibilidade de inclusão das obras
nesse processo. Porém o texto que esta sendo trabalhado nessa exegese coloca em
questão a temática apresentada por Paulo, e se tona mais relevando pelo fato de
ter sido pronunciado em um discurso de Jesus. É de suma importância buscar uma
melhor compreensão sobre o assunto, e é isso que o presente trabalho se propõe
a fazer.
Limitações
Esse trabalho não será
uma analise exaustiva do texto.
Metodologia
Essa é uma pesquisa de
natureza bibliográfico. Para tanto, será empregado o método gramatico-histórico
aplicando o princípio de que a Bíblia é sua única interprete (Sola Scripitura), e que toda a Bíblia é válida
(Tota Scripitura).
2
RESOLUÇÃO DO PROBLEMA
Delimitação
Da Perícope
Mateus 11:12 está na
perícope Mateus 11:7-15 que trata do discurso de Jesus sobre João Batista. Isso
pode ser observado por meio dos seguintes fatores: 1) Há no texto grego uma
divisão em paragrafo que corresponde aos versos 7 a 15. 2) A uma indicação
calar de alteração de contexto dos versos 2 a 6 onde João Batista envia
mensageiros a Jesus e o discurso dos versos 7 a 15 a respeito de João. 3) Logo
após, Jesus muda de assunto e passa a falar sobre as cidade e sua missão como
salvador.
Tradução
WHT: ἀπὸ δὲ τῶν ἡμερῶν Ἰωάνου
τοῦ βαπτιστοῦ ἕως ἄρτι ἡ βασιλεία τῶν οὐρανῶν βιάζεται, καὶ βιασταὶ ἁρπάζουσιν
αὐτήν.
NVI – “Desde os dias de
João Batista até agora, o Reino dos céus é tomado à força, e os que usam de
força se apoderam dele.”
NIV – “Desde os dias de
João Batista até agora, o reino dos céus foi submetido a violência, e as
pessoas violentas foram invadindo-o.” (tradução
minha)
NTLH – “Desde os dias em
que João anunciava a sua mensagem, até hoje, o Reino do Céu tem sido atacado
com violência, e as pessoas violentas tentam conquistá-lo.”
MINHA TRADUÇÃO – “Além
disso, desde os dias de João Batista até agora o Reino dos Céus é tomado por
violência e os violentos se aproveitam disso.”
Fora verificado que há
incoerências entre as principais traduções e o texto grego.
Critica
textual
Não há variantes textuais
significativas.
Contexto
Histórico e Cultural
Autor:
Os
comentaristas mais conservadores apontam para Mateus, o discípulo de Jesus e ex-cobrador de impostos também
chamado de Levi Mateus. Há estudioso que apontam que o evangelho foi escrito
por um judeu anônimo no final do primeiro século em hebraico o aramaico, e só
no segundo ou terceiro século havia sido traduzido para o grego. A alta critica
nega plenamente que o autor tenha sido discípulo de Jesus. Mas há evidências
que indicam que Mateus, o discípulo de Jesus, foi como o autor do evangelho que
recebe seu nome. Nessa pesquisa ira se considerar a crença mais tradicional de
que o evangelho foi realmente escrito por Mateus e em língua grega. (Conforme introdução
da Bíblia de estudos Andrews).
Data:
Não há no meio acadêmico
uma data bem definida para o livro. Porém, quase nenhum estudioso o considera
como tendo sido escrito no segundo século, se não no primeiro. Muitos
estudiosos defendem que o evangelho de Mateus foi escrito antes do ano 70 d.C,
quando os romanos invadiram e destruíram a cidade de Jerusalém e o seu templo.
Essa será a data adotada nesse estudo. (conforme CBASD na introdução ao livro
de Mateus).
Destinatário:
Provavelmente
os Judeus. Ele apresenta o cumprimento das profecias do Antigo Testamento e
busca apresentar Jesus como o Messias que havia sido prometido para os Judeus.
Outra evidencia forte é o fato de Mateus, ao contrário de Marcos, não explicar
os costumes Judaicos que menciona em seu livro. Esses argumentos têm levado
alguns estudiosos a acreditar que Mateus escreveu em hebraico ou aramaico o seu
evangelho, e que só no segundo ou terceiro século o livro fora traduzido. No
entanto não há evidencias de que isso seja verdade. Nunca foi encontrado o
autografo e não há evidencias de uma tradução no texto das copias gregas.
Circunstancia
Histórica: O livro foi escrito em um período de crise
para o povo de Israel. No aspecto religioso eles esperavam o messias que os livrasse
da opressão causada pelos romanos. No senário político Israel estava totalmente
sujeito aos ditames do maior império da época (Roma) e não tinha liberdade de
escolher os próprios governantes ou ter leis próprias que contrariassem as
romanas. Além disso, existem grande evidencias de que o evangelho foi escrito
após a destruição do templo de Jerusalém, algo que certamente abalou a por
completo a nação. Nesse contexto Mateus
relata o nascimento, vida e morte do Messias, Jesus Cristo.
Elementos
Culturais: Os judeus passaram por vários cativeiros
por ao longo da história, conforme narrado na Bíblia. Após o seu cativeiro
babilônico (que findou no quinto século) os lideres religiosos da nação
colocaram em pratica um tratado teológico com o qual, eles acreditavam, não
teriam mais problemas em observar as orientações divinas (os judeus acreditavam
que seu cativeiro havia ocorrido como um castigo pela desobediência as leis de
Deus). Esse tratado era composto de várias regras que expandiam os mandamentos.
Por exemplo: Deus ordenou a observância do sábado, eles então criaram vários
mandamentos do que fazer ou não no sábado. Com o passar do tempo, os judeus
fugiram um pouco do que Deus os havia ensinado sobre o único método de salvação
e começaram a crer que seria possível obter a salvação por méritos próprios.
Para tanto, eles usaram os 613 mandamentos desenvolvidos para ampliar os dez da
lei descrita em Êxodo 20, dos quais 248 eram para não fazer. Porem, se houvesse
a desobediência de algum desses mandamentos era só escolher um dos outros 365
para fazer e repor o credito perdido, e um outros para ter credito extra. Um
exemplo de mandamentos para fazer: ofertar no templo ou ajudar órfãs e viúvas.
(Conforme apresentado pelo Dr Roberto Pereyra na Semana Teologia dia 26 de
março de 2017 no auditório do residencial masculino da Faculdade Adventista da
Amazônia. Texto não publicado)
Propósito
e Tema do Livro: O propósito do Evangelho de Jesus segundo
Mateus, como o próprio nome já diz, é contar a boa nova sobre o messias, que é
Jesus Cristo, aos Judeus que estavam a muitos anos esperando a sua vinda. O
livro inteiro gira em torno disso.
CONTEXTO
LITERÁRIO
Gênero
do Texto: Evangelho
Esboço
do Livro:
1.
Prólogo: Genealogia e narrativa da
infância de Jesus 1:1-2:23
a) Genealogia
de Jesus 1:1-17
b) O
nascimento 1:18-25
c) A
visita dos magos 2:1-12
d) Fuga
para o Egito e matança nos inocentes, a volta para Israel 2:13-13
2.
Proclamação do Reino dos Céus 3:1-7:29
a) Início
do Ministério de Jesus 3:1-7:29
b) O
Sermão da Montanha 5:1-7:29
3.
O ministério de Jesus na Galileia 8:1-11:1
a) Realização
dos dez milagres 8:1-11:1
b) Escolha
e envio dos doze (Missão) 9:35-11:1
4.
Histórias e parábolas em meio a
controvérsias 11:2-13:52
a) Controvérsia
11:2-12:50
b) Várias
parábolas sobre o Reino dos Céus 13:1-52
5.
Narrativa, controvérsia e discurso 13:53-17:27
a) Dias
que antecederam a sua ida a Jerusalém 13:53-17:27
b) Ensinos
para os discípulos 18:1-35
6.
Jesus na Judéia e em Jerusalém 19:1-25:46
a) A
jornada final de Jesus: entrada triunfal e discursos em Jerusalém 19:1-23:39
b) Os
ensinos escatológicos de Jesus 24:1-25:46
7.
A narrativa da Paixão de Cristo 26:1-27:66
8.
A narrativa da ressurreição e o envio 28:1-20
Fonte: feito com o auxilio da Bíblia
de Estudos de Genebra
Relação
com o Contexto
O texto estudado faz
parte de um discurso de Jesus sobre João Batista. A Bíblia de Almeida em sua
versão Revista e Atualizada (ARA) titula o toda a períco onde o texto se
encontra como “o testemunho de Jesus sobre João Batista”.
Há uma passagem paralela
do texto no livro de Lucas no capitulo 16 e verso 16, onde diz: “A lei e os
profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de Deus, e todo o
homem emprega força para entrar nele.”
(grifo nosso). Os outros dois evangelhos não mencionam esse evento. Os editores
da Bíblia ARA atribuem o mesmo titulo para o texto de Lucas.
Mateus não escreveu
nenhum outro livro do Novo Testamento, e não usa expressões semelhantes no
resto de seu livro. Lucas escreveu o seu evangelho e o livro de Atos dos
Apóstolos, porém não faz uso desses mesmos termos em nenhum outro lugar.
Não existem outras
citações em todo o Novo Testamento onde Jesus pareça defender a salvação pelas
obras. Pelo contrário, há textos onde Ele expressa claramente: "a tua fé
te salvou." Mateus 9:22.
Analise
Gramatical
A palavra traduzida como
força é βιάζεται. Literalmente significa "forçar passagem” ou “entrar
forçosamente". Não resta dúvidas de que a passagem fala sobre o uso da
força.
Porém há uma palavra
muitas vezes esquecida pelos tradutores que desejo analisar. A palavra é δὲ.
Ela aparece suprimida na maioria das traduções mais faz grande diferença. O início
do veros pode ser traduzido como “Além disso” e demostra uma conexão com o que
havia sido dito anteriormente.
Estudo
do Uso de Palavras
As duas únicas vezes em
que a palavra βιάζεται é usada estão nas falas de Jesus relatadas por Mateus e
Lucas, como já fora mencionado acima. Em todo o resto do Novo Testamento não se
usa essa palavra. E seu uso fora da Bíblia não é muito significativo (THAYLER,
p. 122).
Já as palavras ἀπὸ δὲ são
usadas com bastante abrangência em toda o Novo Testamento.
A respeito do termo δε, Danker
e Gingrich (p. 50) escrevem:
δε
conjunção adversativa, pospositiva; também
é usada aditivamente e Mt 1.2ss; mas Mt 6.1; 1 Co 2.15. Indicando apenas
transição, ora, então Mc 5.11; Lc 3.21; 1 Co 16.12; isto éKm 3.22; 1 Co 10.11;
Fp 2.8. Após um adv. de negação, pelo contrário, mas Lc 10.20; At 12.9, 14; Ef
4.15; Hb 4.13, 15. δέ και e também, mas também Mt 18.17; Mc 14.31; Jo 2.2; At 22.28;
1 Co 15.15. και ... δέ e também, mas também, pois também Mt 16.18; Jo 6.51; At
22.29; 2 Tm 3.12. Para μεν ... δέ veja μέν. δέ pode, frequentemente, ser omitida
na tradução. (grifo nosso)
Como fora mostrado acima,
o termo δε que quase sempre é traduzido como uma conjunção adversativa (mas),
pode ser também ser usada como um aditivo que denote retomar a ideia que vinha
sendo trabalhada antes.
Nesse sentido o termo
serviria para conectar o verso 12 aos seus antecessores.
Por tanto proponho que a melhor
forma de traduzir seria: “Além disso, desde os dias de João Batista até agora o
Reino dos Céus é tomado por violência e os violentos se aproveitam disso.”
ANALISE
TEOLOGICA
A correta compreensão
desse veros é vital para a Soteriologia. Não é muito viável propor que Jesus
aqui estivesse ensinado algo que é condenado em vários lugares da Bíblia, com
mais ênfase em Efésios 2:8-10.
Deve-se levar em conta
todo o contexto cultural judaico para obter uma correta interpretação desse
texto.
Mediante o apresentado
acima, pode-se afirmar que Jesus, dizendo: “além disso, desde os dias de João
Batista até agora o Reino dos Céus é tomado por violência e os violentos se
aproveitam disso” conforme a tradução proposta, não estava concordando com os
ensinos rabínicos, mas sim alertando os seus ouvintes a respeito do assunto.
Jesus na verdade estava
dizendo que, embora muitas pessoas ensinassem que era possível obter o reino de
Deus por meio de obras praticadas (força) e que os praticantes de boas obras
(que se esforção) estavam se aproveitando disso. Jesus, até então, falava a
respeito de João Batista e sua pregação no deserto (versos 7 a 11). No verso 12
Ele acrescenta que desde quando João iniciou suas pregações (ou mesmo antes) já
havia a crença de que o reino dos Céus poderia ser conquistado mediante esforço
(cumprindo mandamentos apara obter crédito diante de Deus) e que muitos
gostavam dessa ideia ao ponde de acreditarem que estavam obtendo o reino dos
Céus.
Isso, porém, não era bíblico. Era exatamente o
que João desejava combater com seus sermões sobre arrependimento e confissão de
pecados, batismo e nova vida. O próprio Jesus define a forma correta para se
obter entrada no reino alguns versos depois (28-30) quando apela para que os
que estivessem casados (talvez de tentarem inutilmente buscar méritos por
esforço próprio) se achegassem a ele.
3
RESUMO E CONCLUSÕES
O texto de Mateus 11:12
pode ser mal compreendido em nossos dias se for retirado de seu contexto
histórico e cultural. Nesses versos Jesus faz uma crítica a má compreensão das
escrituras e lei divina por parte dos líderes judaicos de sua época.
Percebe-se que existem
outras possibilidades de tradução para o termo δε, além da tradução mais
convencionais que apontariam apara uma ideia de adição ao texto anterior ao
invés de contraposição, como é colocado na maioria das trações modernas.
Conclui-se por tanto,
afirmando que a correta compreensão desse texto tira qualquer possível alegação
de que Jesus possa ter defendido a salvação pelas obras ou som o seu auxilio e
se demostra que o texto apenas apresenta uma menção de Cristo sobre esse
assunto.
Cristo entendia que os
judeus de seu tempo tinham uma incorreta interpresam soteriologica acerca da
lei. E Ele apenas explica que embora muitos estivessem retirando proeiro dessa
má compreensão e crendo que por seus méritos estavam s aproximando do reino de
Deus, eles na verdade estavam cometendo um terrível equívoco. Prova disso é o
convite feito por Cristo no mesmo capitulo nos versos 28 a 30, um verdadeiro
convite a graça e ao arrependimento.
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REFERENCIAS
BÍBLIA DE ESTUDOS
ANDREWS. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2015.
COMENTÁRIO BÍBLICO
ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA: A Bíblia Sagrada com o comentário exegético e
expositivo, 1. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, (Logos v. 5).
GINGRICH, F. Wilbur; DANKER,
Frederick W. Léxico Do Novo Testamento
Grego / Português. São Paulo: Vida Nova, 1993.
OMANSON, Roger L. Variantes
textuais do novo testamento: análise
e avaliação do aparato critíco de "O novo testamento grego". Tradução
de Vilson Scholz. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.
REGA, Lourenço Stelio; BERGMANN, Johannes. Noções do grego bíblico: gramática fundamental.
3. ed. São Paulo: Vida Nova, 2014.
THAYLER, Joseph Henry. Greek-English Lexicon of the New Testament.
Disponível em:
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