"E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará" - Jo 8:32

sábado, 11 de agosto de 2018

UM EXEGESE DE MATEUS 11:12


Imagem relacionada

Texto Bíblico:
“Desde os dias de João Batista até agora, o reino dos céus é tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele.” Mateus 11:12

1 INTRODUÇÃO
Definição Do Problema
O texto de Mateus 11:12, quando tirado de seu contexto, pode ser mal interpretado. No texto há expressões como “tomado por esforço” e “esforçam” que podem levar o leitor a interpreta-lo como sendo apoio a crença da salvação pelas obras, ou, até mesmo, que as obras são levadas em conta no processo de salvação. Especialmente porque essas palavras foram ditas pelo próprio Cristo.

Proposito
O presente trabalho tem como objetivo buscar, por meio da hermenêutica bíblica, a melhor compreensão para o texto de Mateus 11:12. O texto será estudado exegeticamente dentro do seu contexto e língua original, para que se possa conhecer qual o verdadeiro sentido o autor desejava transmitir aos seus leitores.

Relevância Do Trabalho
A crença na salvação unicamente pela graça é defendida pela maioria dos cristãos e apresentada nos escritos do apóstolo Paulo por varia vezes, sendo a mais destacada Efésios 2:8-10 onde o autor desqualifica qualquer possibilidade de inclusão das obras nesse processo. Porém o texto que esta sendo trabalhado nessa exegese coloca em questão a temática apresentada por Paulo, e se tona mais relevando pelo fato de ter sido pronunciado em um discurso de Jesus. É de suma importância buscar uma melhor compreensão sobre o assunto, e é isso que o presente trabalho se propõe a fazer.

Limitações
Esse trabalho não será uma analise exaustiva do texto.

Metodologia
Essa é uma pesquisa de natureza bibliográfico. Para tanto, será empregado o método gramatico-histórico aplicando o princípio de que a Bíblia é sua única interprete (Sola Scripitura), e que toda a Bíblia é válida (Tota Scripitura).

2 RESOLUÇÃO DO PROBLEMA
Delimitação Da Perícope
Mateus 11:12 está na perícope Mateus 11:7-15 que trata do discurso de Jesus sobre João Batista. Isso pode ser observado por meio dos seguintes fatores: 1) Há no texto grego uma divisão em paragrafo que corresponde aos versos 7 a 15. 2) A uma indicação calar de alteração de contexto dos versos 2 a 6 onde João Batista envia mensageiros a Jesus e o discurso dos versos 7 a 15 a respeito de João. 3) Logo após, Jesus muda de assunto e passa a falar sobre as cidade e sua missão como salvador.

Tradução
WHT: ἀπὸ δὲ τῶν ἡμερῶν Ἰωάνου τοῦ βαπτιστοῦ ἕως ἄρτι ἡ βασιλεία τῶν οὐρανῶν βιάζεται, καὶ βιασταὶ ἁρπάζουσιν αὐτήν.
NVI – “Desde os dias de João Batista até agora, o Reino dos céus é tomado à força, e os que usam de força se apoderam dele.”
NIV – “Desde os dias de João Batista até agora, o reino dos céus foi submetido a violência, e as pessoas violentas foram invadindo-o.” (tradução minha)
NTLH – “Desde os dias em que João anunciava a sua mensagem, até hoje, o Reino do Céu tem sido atacado com violência, e as pessoas violentas tentam conquistá-lo.”
MINHA TRADUÇÃO – “Além disso, desde os dias de João Batista até agora o Reino dos Céus é tomado por violência e os violentos se aproveitam disso.”
Fora verificado que há incoerências entre as principais traduções e o texto grego.

Critica textual
Não há variantes textuais significativas.

Contexto Histórico e Cultural
Autor: Os comentaristas mais conservadores apontam para Mateus, o discípulo de Jesus e ex-cobrador de impostos também chamado de Levi Mateus. Há estudioso que apontam que o evangelho foi escrito por um judeu anônimo no final do primeiro século em hebraico o aramaico, e só no segundo ou terceiro século havia sido traduzido para o grego. A alta critica nega plenamente que o autor tenha sido discípulo de Jesus. Mas há evidências que indicam que Mateus, o discípulo de Jesus, foi como o autor do evangelho que recebe seu nome. Nessa pesquisa ira se considerar a crença mais tradicional de que o evangelho foi realmente escrito por Mateus e em língua grega. (Conforme introdução da Bíblia de estudos Andrews).

Data:  Não há no meio acadêmico uma data bem definida para o livro. Porém, quase nenhum estudioso o considera como tendo sido escrito no segundo século, se não no primeiro. Muitos estudiosos defendem que o evangelho de Mateus foi escrito antes do ano 70 d.C, quando os romanos invadiram e destruíram a cidade de Jerusalém e o seu templo. Essa será a data adotada nesse estudo. (conforme CBASD na introdução ao livro de Mateus).

Destinatário: Provavelmente os Judeus. Ele apresenta o cumprimento das profecias do Antigo Testamento e busca apresentar Jesus como o Messias que havia sido prometido para os Judeus. Outra evidencia forte é o fato de Mateus, ao contrário de Marcos, não explicar os costumes Judaicos que menciona em seu livro. Esses argumentos têm levado alguns estudiosos a acreditar que Mateus escreveu em hebraico ou aramaico o seu evangelho, e que só no segundo ou terceiro século o livro fora traduzido. No entanto não há evidencias de que isso seja verdade. Nunca foi encontrado o autografo e não há evidencias de uma tradução no texto das copias gregas.

Circunstancia Histórica: O livro foi escrito em um período de crise para o povo de Israel. No aspecto religioso eles esperavam o messias que os livrasse da opressão causada pelos romanos. No senário político Israel estava totalmente sujeito aos ditames do maior império da época (Roma) e não tinha liberdade de escolher os próprios governantes ou ter leis próprias que contrariassem as romanas. Além disso, existem grande evidencias de que o evangelho foi escrito após a destruição do templo de Jerusalém, algo que certamente abalou a por completo a nação. Nesse contexto Mateus relata o nascimento, vida e morte do Messias, Jesus Cristo.

Elementos Culturais: Os judeus passaram por vários cativeiros por ao longo da história, conforme narrado na Bíblia. Após o seu cativeiro babilônico (que findou no quinto século) os lideres religiosos da nação colocaram em pratica um tratado teológico com o qual, eles acreditavam, não teriam mais problemas em observar as orientações divinas (os judeus acreditavam que seu cativeiro havia ocorrido como um castigo pela desobediência as leis de Deus). Esse tratado era composto de várias regras que expandiam os mandamentos. Por exemplo: Deus ordenou a observância do sábado, eles então criaram vários mandamentos do que fazer ou não no sábado. Com o passar do tempo, os judeus fugiram um pouco do que Deus os havia ensinado sobre o único método de salvação e começaram a crer que seria possível obter a salvação por méritos próprios. Para tanto, eles usaram os 613 mandamentos desenvolvidos para ampliar os dez da lei descrita em Êxodo 20, dos quais 248 eram para não fazer. Porem, se houvesse a desobediência de algum desses mandamentos era só escolher um dos outros 365 para fazer e repor o credito perdido, e um outros para ter credito extra. Um exemplo de mandamentos para fazer: ofertar no templo ou ajudar órfãs e viúvas. (Conforme apresentado pelo Dr Roberto Pereyra na Semana Teologia dia 26 de março de 2017 no auditório do residencial masculino da Faculdade Adventista da Amazônia. Texto não publicado)

Propósito e Tema do Livro: O propósito do Evangelho de Jesus segundo Mateus, como o próprio nome já diz, é contar a boa nova sobre o messias, que é Jesus Cristo, aos Judeus que estavam a muitos anos esperando a sua vinda. O livro inteiro gira em torno disso.

CONTEXTO LITERÁRIO
Gênero do Texto: Evangelho
Esboço do Livro:
1.      Prólogo: Genealogia e narrativa da infância de Jesus 1:1-2:23
a)      Genealogia de Jesus 1:1-17
b)      O nascimento 1:18-25
c)      A visita dos magos 2:1-12
d)      Fuga para o Egito e matança nos inocentes, a volta para Israel 2:13-13
2.      Proclamação do Reino dos Céus 3:1-7:29
a)      Início do Ministério de Jesus 3:1-7:29
b)      O Sermão da Montanha 5:1-7:29
3.      O ministério de Jesus na Galileia 8:1-11:1
a)      Realização dos dez milagres 8:1-11:1
b)      Escolha e envio dos doze (Missão) 9:35-11:1
4.      Histórias e parábolas em meio a controvérsias 11:2-13:52
a)      Controvérsia 11:2-12:50
b)      Várias parábolas sobre o Reino dos Céus 13:1-52
5.      Narrativa, controvérsia e discurso 13:53-17:27
a)      Dias que antecederam a sua ida a Jerusalém 13:53-17:27
b)      Ensinos para os discípulos 18:1-35
6.      Jesus na Judéia e em Jerusalém 19:1-25:46
a)      A jornada final de Jesus: entrada triunfal e discursos em Jerusalém 19:1-23:39
b)      Os ensinos escatológicos de Jesus 24:1-25:46
7.      A narrativa da Paixão de Cristo 26:1-27:66
8.      A narrativa da ressurreição e o envio 28:1-20
Fonte: feito com o auxilio da Bíblia de Estudos de Genebra

Relação com o Contexto
O texto estudado faz parte de um discurso de Jesus sobre João Batista. A Bíblia de Almeida em sua versão Revista e Atualizada (ARA) titula o toda a períco onde o texto se encontra como “o testemunho de Jesus sobre João Batista”.

Há uma passagem paralela do texto no livro de Lucas no capitulo 16 e verso 16, onde diz: “A lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de Deus, e todo o homem emprega força para entrar nele.” (grifo nosso). Os outros dois evangelhos não mencionam esse evento. Os editores da Bíblia ARA atribuem o mesmo titulo para o texto de Lucas.

Mateus não escreveu nenhum outro livro do Novo Testamento, e não usa expressões semelhantes no resto de seu livro. Lucas escreveu o seu evangelho e o livro de Atos dos Apóstolos, porém não faz uso desses mesmos termos em nenhum outro lugar.

Não existem outras citações em todo o Novo Testamento onde Jesus pareça defender a salvação pelas obras. Pelo contrário, há textos onde Ele expressa claramente: "a tua fé te salvou."  Mateus 9:22.

Analise Gramatical
A palavra traduzida como força é βιάζεται. Literalmente significa "forçar passagem” ou “entrar forçosamente". Não resta dúvidas de que a passagem fala sobre o uso da força.

Porém há uma palavra muitas vezes esquecida pelos tradutores que desejo analisar. A palavra é δὲ. Ela aparece suprimida na maioria das traduções mais faz grande diferença. O início do veros pode ser traduzido como “Além disso” e demostra uma conexão com o que havia sido dito anteriormente.

Estudo do Uso de Palavras
As duas únicas vezes em que a palavra βιάζεται é usada estão nas falas de Jesus relatadas por Mateus e Lucas, como já fora mencionado acima. Em todo o resto do Novo Testamento não se usa essa palavra. E seu uso fora da Bíblia não é muito significativo (THAYLER, p. 122).

Já as palavras ἀπὸ δὲ são usadas com bastante abrangência em toda o Novo Testamento.

A respeito do termo δε, Danker e Gingrich (p. 50) escrevem:
δε conjunção adversativa, pospositiva; também é usada aditivamente e Mt 1.2ss; mas Mt 6.1; 1 Co 2.15. Indicando apenas transição, ora, então Mc 5.11; Lc 3.21; 1 Co 16.12; isto éKm 3.22; 1 Co 10.11; Fp 2.8. Após um adv. de negação, pelo contrário, mas Lc 10.20; At 12.9, 14; Ef 4.15; Hb 4.13, 15. δέ και e também, mas também Mt 18.17; Mc 14.31; Jo 2.2; At 22.28; 1 Co 15.15. και ... δέ e também, mas também, pois também Mt 16.18; Jo 6.51; At 22.29; 2 Tm 3.12. Para μεν ... δέ veja μέν. δέ pode, frequentemente, ser omitida na tradução. (grifo nosso)

Como fora mostrado acima, o termo δε que quase sempre é traduzido como uma conjunção adversativa (mas), pode ser também ser usada como um aditivo que denote retomar a ideia que vinha sendo trabalhada antes.

Nesse sentido o termo serviria para conectar o verso 12 aos seus antecessores.

Por tanto proponho que a melhor forma de traduzir seria: “Além disso, desde os dias de João Batista até agora o Reino dos Céus é tomado por violência e os violentos se aproveitam disso.”

ANALISE TEOLOGICA
A correta compreensão desse veros é vital para a Soteriologia. Não é muito viável propor que Jesus aqui estivesse ensinado algo que é condenado em vários lugares da Bíblia, com mais ênfase em Efésios 2:8-10.

Deve-se levar em conta todo o contexto cultural judaico para obter uma correta interpretação desse texto.

Mediante o apresentado acima, pode-se afirmar que Jesus, dizendo: “além disso, desde os dias de João Batista até agora o Reino dos Céus é tomado por violência e os violentos se aproveitam disso” conforme a tradução proposta, não estava concordando com os ensinos rabínicos, mas sim alertando os seus ouvintes a respeito do assunto.

Jesus na verdade estava dizendo que, embora muitas pessoas ensinassem que era possível obter o reino de Deus por meio de obras praticadas (força) e que os praticantes de boas obras (que se esforção) estavam se aproveitando disso. Jesus, até então, falava a respeito de João Batista e sua pregação no deserto (versos 7 a 11). No verso 12 Ele acrescenta que desde quando João iniciou suas pregações (ou mesmo antes) já havia a crença de que o reino dos Céus poderia ser conquistado mediante esforço (cumprindo mandamentos apara obter crédito diante de Deus) e que muitos gostavam dessa ideia ao ponde de acreditarem que estavam obtendo o reino dos Céus.

 Isso, porém, não era bíblico. Era exatamente o que João desejava combater com seus sermões sobre arrependimento e confissão de pecados, batismo e nova vida. O próprio Jesus define a forma correta para se obter entrada no reino alguns versos depois (28-30) quando apela para que os que estivessem casados (talvez de tentarem inutilmente buscar méritos por esforço próprio) se achegassem a ele.


3 RESUMO E CONCLUSÕES
O texto de Mateus 11:12 pode ser mal compreendido em nossos dias se for retirado de seu contexto histórico e cultural. Nesses versos Jesus faz uma crítica a má compreensão das escrituras e lei divina por parte dos líderes judaicos de sua época.

Percebe-se que existem outras possibilidades de tradução para o termo δε, além da tradução mais convencionais que apontariam apara uma ideia de adição ao texto anterior ao invés de contraposição, como é colocado na maioria das trações modernas.

Conclui-se por tanto, afirmando que a correta compreensão desse texto tira qualquer possível alegação de que Jesus possa ter defendido a salvação pelas obras ou som o seu auxilio e se demostra que o texto apenas apresenta uma menção de Cristo sobre esse assunto.

Cristo entendia que os judeus de seu tempo tinham uma incorreta interpresam soteriologica acerca da lei. E Ele apenas explica que embora muitos estivessem retirando proeiro dessa má compreensão e crendo que por seus méritos estavam s aproximando do reino de Deus, eles na verdade estavam cometendo um terrível equívoco. Prova disso é o convite feito por Cristo no mesmo capitulo nos versos 28 a 30, um verdadeiro convite a graça e  ao arrependimento.



________________________________________




REFERENCIAS
BÍBLIA DE ESTUDOS ANDREWS. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2015.

COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA: A Bíblia Sagrada com o comentário exegético e expositivo, 1. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, (Logos v. 5).

GINGRICH, F. Wilbur; DANKER, Frederick W. Léxico Do Novo Testamento Grego / Português. São Paulo: Vida Nova, 1993.

OMANSON, Roger L.  Variantes textuais do novo testamento:  análise e avaliação do aparato critíco de "O novo testamento grego". Tradução de Vilson Scholz. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.


REGA, Lourenço Stelio; BERGMANN, Johannes. Noções do grego bíblico: gramática fundamental. 3. ed. São Paulo: Vida Nova, 2014.

THAYLER, Joseph Henry. Greek-English Lexicon of the New Testament. Disponível em:

Share:

0 comentários:

Postar um comentário

LE no Facebook

Publicações do blog

Estudo bíblico O Grande Conflito

Versão em Espanhol

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *

Sobre o Autor:

Jair Gomes Silva é aluno do curso de Teologia da Faculdade Adventista da Amazônia. Tem grande interece pela área da teologia histórica. Ama fazer evangelismos e ganhar almas para Cristo.